quinta-feira, 1 de maio de 2014

SEQUÊNCIA DIDATICA  POETAS DA ESCOLA - 2012

Atividades desenvolvidas com  alunos da professora Gildete, 5º ano  A (4ª série), EMEF. "Armelinda Espúrio da Silva", seguindo a proposta da sequência didática do caderno do professor  “Olimpíadas de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro – Poetas da escola”.
         São atividades que também podem ser adaptadas e desenvolvidas em outro momento desejado.

Introdução ao gênero  - Sobre poemas e poetas


Desenvolvimento:
1 – Conhecimento prévio dos alunos

a) Vocês gostam de Poemas? Por quê?
b) Vocês já escreveram poema?
c) Vocês leem Poemas com frequência?
d) Vocês sabem com são chamadas as partes de um Poema?
e) Os Poemas podem estar interligados com as músicas?
f) Os Poemas trabalham com a sonoridade?
g) Qualquer tema pode virar poema.
h) Você sabe declamar algum Poema?


2 – Leitura do poema abaixo.


         Convite
                             José Paulo 

Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.

Só que
bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.

As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.

Como a água do rio
que é água sempre nova.

Como cada dia
que é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia?

- Interação oral.
a)   O que é poesia para Paulo Paes?
b)   Vocês acham possível brincar com as palavras?
c)   Vocês conhecem algumas brincadeiras envolvendo as palavras?
d)   Ler poesia pode ser uma brincadeira? Por quê?
e)   Por que o autor acha que poesia é brincar com as palavras?
f)    Por que ao brincar com as palavras, elas vão ficando novas?
g)   Quem é o poeta, de acordo com a visão do autor do poema?
h)   Vocês acham que, ao escrever este poema, o poeta brincou com as palavras? Justifiquem.
i)     Por que vocês acham que o texto se chama “convite”?
j)     Vocês aceitam este convite de brincar de ler e escrever poesias? Por quê?


4 – Conversar com os alunos sobre:

Qual é a diferença entre poema e poesia?

          É relevante  destacar a diferença entre poema e poesia. Apesar de serem  tratadas  por  muitos  como sinônimos,  o  uso  dos  dois  termos  entre os estudiosos apresenta diferenças, a saber:

  Poesia: A poesia é uma substância
 imaterial. Caráter do que emociona, toca a sensibilidade. Há poesia   sempre que  somos dominados pelo sentimento do belo. A poesia pode estar nos lugares, nos objetos e nas pessoas à espera de um olhar sensível. Assim, não só os poemas, mas uma paisagem, uma pintura, uma foto, uma dança, um gesto, um conto, por exemplo, podem estar carregados de poesia.

  Poema
O poema é o resultado concreto da arte da poesia, cuja apresentação pode surgir em forma de versos, estrofes ou prosa, com a finalidade de manifestar sentimento e emoção. A matéria prima sãp as palavras, as quais são escolhidas pela sua beleza e som e arrumadas com cuidado. 




Oficina 1 - Mural de Poemas

Objetivos

●  Resgatar e valorizar a cultura da comunidade
●  Avaliar e ampliar o repertório de poemas
●  Reconhecer os poemas em suas diversas formas

Material
·        Folhas de papel kraft
·        Fita crepe
·        Papel sulfite ou  folha de linguagem
·        Caderno, caneta, lápis
·        Mural
·        Cópia dos poemas selecionados


Desenvolvimento:
1-  Formar  grupos (dupla ou grupo de quatro alunos).
2 -  Cada grupo escolhe um relator para expor as ideias, as respostas encontradas.
3 - Propor questões como:
   a) Para você, o que é poesia?
   b) Você já ouviu ou leu um poema? Em caso afirmativo, conte aos colegas onde.
   c) O que você sabe sobre essa forma de texto?
    d)  A ocupação da página pelo poema é feita da mesma forma que se procede ao escrever uma história em prosa?

4 - O professor deve escrever na lousa o título dos poemas  ou versos lembrados pelos alunos. Em seguida solicitar aos grupos que, cada um escolha um dos poemas citados  e o copiem  no papel sulfite ou na folha de linguagem.

     Observação:
     Caso os alunos não saibam, não lembram nenhum título, lavá-los à biblioteca para realizar esta atividade, solicitando a leitura de alguns poemas e escolha de um com o respectivo autor.

5 - Confeccionar um mural: Os grupos devem planejar a organização (onde o  mural vai ser colocado, como deixá-lo bem organizado e bonito). 
6 - Colocar no mural,  os poemas que resgataram na memória.
7 – Coletar poemas que a comunidade conhece:

a)   Tarefa de casa: Entrevistar pais, avós, parentes, amigos vizinhos e conhecidos. Fazendo  diversas perguntas: Você gosta de poemas? Sabe o nome de algum poeta? Quando você leu pela primeira vez um poema? Você sabe algum poema de cor?  Poderia recitá-lo, ou escrevê-lo para nos presentear? Tem algum livro de poemas? Dos poemas deste livro, quais  são os prediletos? Você aceita o convite para declamar um dos seus poemas prediletos na escola?

         Observação: Esta entrevista pode ser registrada no caderno ou gravada, filmada. Também pode convidar a pessoa entrevistada para declamar o poema preferido na escola.


  Oficina 2 -  O que faz um poema

Objetivo
●  Conhecer as características do poema: rimas, versos e estrofes

Material
·        Coletânea de poemas
·        CD/ROM de poemas
·        Aparelho de som
·        Mural de poemas
·        Cópias de poemas: “Tem tudo a ver “ (Elias José) e “Prazer de Poeta” (Mardilê Friedrich Fabre )

Desenvolvimento:
1 – Propor a socialização da tarefa realizada em casa e selecionar quais irão para o mural.

2 - Sobre os poemas que estão no mural:

a) Por que escolheram esses poemas?
b) Como sabem que são poemas?
c) Por que eles são diferentes de uma notícia de jornal, de uma receita de bolo ou de um conto?
d) Como eles se organizam no papel?
e) Eles preenche todo o espaço das linhas, da margem esquerda à direita?
f) Há linhas em branco entre os versos?
g) Há sons que se repetem? E construções?
h) Há palavras ou expressões que, mesmo distanciadas dentro do texto, podem ser associadas, por terem semelhança sonora ou figurarem em construções iguais?
i) Do que tratam os poemas que vocês pesquisaram?
J) Socialize os versos ou estrofes do poema que colocou no mural, que mais lhe agradaram.

3 - Sistematizar as ideias surgidas no grupo, escrevê-las na lousa,  e solicitar que cada aluno faça o  registro no caderno:
Verso – é cada uma das linhas do poema.
Estrofe – é cada grupo de versos separados do grupo seguinte por um espaço.
Um poema pode ter uma ou várias estrofes. E cada estrofe, um número variado de versos.


4 – Entregar uma cópia do poema “Tem tudo a ver “, de Elias José para cada aluno  solicitando a leitura silenciosa.  Em seguida colocar o CD-ROM para que  a turma ouça.


Tem tudo a ver

A poesia
Tem tudo a ver
Com tuas dores e alegrias,
Com as cores, as formas, os cheiros,
Os sabores e a música
Do mundo

A poesia
Tem tudo a ver
Com o sorriso da criança,
O diálogo dos namorados,
As lágrimas diante da morte,
Os olhos pedindo pão.

A poesia
Tem tudo a ver
Com a plumagem,
O vôo e canto do pássaro,
A veloz acrobacia dos peixes,
As cores todas do arco-ires
O ritmo dos rios e cachoeiras,
O brilho da lua, do sol e das estrelas,
A explosão em verde, em flores e frutos.

A poesia
- é só abrir os olhos e ver -
Tem tudo a ver
Com tudo.

5 – Propor as questões sobre o poema lido:

a) Do que fala o poema?
b) Quem é o autor?
c) Por que o autor diz que “poesia tem tudo a ver com tudo”?
d) Quais as palavras iniciais de cada estrofe do poema? Qual é a razão de todas elas (estrofes) começarem assim?
e) Afinal, poesia "tem a ver" com o que?
f) Esse poema tem rimas? Tem ritmo?
g) É possível compor poemas sem rima? E sem ritmo?

6 - Organização do poema: Explicar que o poema lido ( de Elias José) tem vinte e quatro versos e quatro estrofes. Em seguida propor as questões:

a) Destaque o verso ou estrofe que mais gostou.
b) Alguém lembra o que é verso e o que é estrofe?
c) De  acordo com sua observação, o  que os poemas podem exprimir?


7 – Solicitar aos alunos a leitura silenciosa do poema “Prazer de Poeta ”.  Em seguida, o professor ou um aluno deve fazer a leitura em voz alta.


Prazer de Poeta

Prazer  de poeta é 
poesia.
Extravasar em palavras melodia;
entregar ao público seu encantamento;
não  desviar a 
fantasia um só momento.

Prazer  de poeta é 
emoção.
Sensibilizar  outro 
coração;
lamentar o desvario do mundo;
gritar o delírio moribundo.

Prazer de poeta é viver.
Cada dia poder escolher
limites a serem ultrapassados,
percorrendo caminhos insondados.  
 


                     Mardilê Friedrich Fabre
                    http://sitedepoesias.com/poesias/44277

9 – Após a leitura do poema proposto,  colocar as questões:

a) Você sabe que poema é um texto em versos e que verso é cada linha do poema. Quantos versos tem o poema “Prazer de Poeta”?
b)  Estrofe é o nome que se dá a um agrupamento de versos. As estrofes se separam uma das outras por uma linha em branco.  Este poema  está organizado em quantas estrofes?
c) Todas as estrofes têm o mesmo número de versos?
d) Existe poema organizado em uma só estrofe? Cite um que você conhece. 
e)  Examine novamente o poema e destaque as rimas.
f) Transcreva para o caderno  os pares de palavras que estão rimando neste poema?
g)  As palavras que estão rimando pertencem a que classes gramaticais?

10 – Sistematizar as observações do gênero em  estudo e solicitar que cada aluno faça o registro no caderno.

=>  O poema é um texto literário, geralmente escrito na forma vertical, isto é, um verso embaixo do outro. Pode ocupar o espaço do papel de variadas maneiras, por ser possível formá-lo utilizando versos e estrofes de tamanho e números diferentes.
=> O modo como o poema é organizado é tão importante quanto o tema.
=> Um poema  pode ainda falar sobre qualquer assunto: pessoas, ideias, sentimentos, lugares ou acontecimentos.
=> A escolha do tema, a maneira de falar, a combinação das palavras e a organização das estrofes formam uma unidade.
=> A rima é uma característica do poema, mas não obrigatória, pois existem versos sem rimas.
=>  O poema requer a leitura em voz alta para que capturemos melhor o ritmo dos versos.
=> É relevante lembrar que na construção do poema as palavras que rimam sejam pertencentes a classes gramaticais diferentes.
=> O poema é um gênero textual literário, com características próprias baseadas na sonoridade, na exploração estética das palavras, no uso das imagens poéticas, na forma e também em sua finalidade maior – que é proporcionar prazer aos leitores ou ouvintes.



11 – Propor para casa:
           Pesquisar  mais poemas (de diversos autores) em livros, internet e trazer para colocar no mural.


Oficina 3 - Primeiro ensaio

Objetivos
·        Apresentar a situação de produção.
·        Escrever um primeiro poema para avaliar o conhecimento dos alunos.


Escrita do primeiro poema de autoria do aluno para avaliar seu conhecimento e possíveis dificuldades

Material
·        Caderno
·        Lápis ou caneta
·        Borracha
·        Lápis de cor 


Desenvolvimento:
1 –  Falar aos alunos que eles irão  produzir um poema  com o tema “O lugar onde vivo”. Esse lugar pode ser  a casa,  a rua,  o bairro,  a cidade,  o país, etc  onde  mora. Devem lembrar das  características do lugar escolhido e as emoções, sentimentos que ele desperta.  Cada um deve escolher um título e estar bem à vontade para escrever o seu primeiro poema.  Explicar que os poemas produzidos por eles serão conhecidos por muitas pessoas em uma ou mais formas: livro; murais; saraus; exposições. Portanto devem caprichar.

2 – Solicitar a cada aluno que:
=>  Faça uma lista das coisas existentes no lugar onde vive que mais lhe emocionam.
=>  Deve responder as questões: Por que essas coisas tocaram a minha emoção? Que sentimentos (amor, ódio, saudade, revolta, ternura, etc) traduzem minha emoção?  Que palavras melhor expressam as imagens que eu tenho desse lugar?  O que eu  posso dizer de tudo isso?        
=>  Após esse aquecimento, fazer no caderno, um rascunho do poema utilizando e organizando as informações e expressões citadas. Depois, ler o rascunho e fazer as correções necessárias.

3 – Propor aos alunos que  passem  o poema a limpo em uma folha de caderno ou similar (almaço / linguagem) para entregar ao professor

Oficina 4 – Dizer poemas

Objetivos
·        Conhecer alguns poetas e poemas consagrados da literatura brasileira.
·        Descobrir a importância de ouvir e dizer poemas.

Material
·        Coletânea de poemas
·        CD/ROM de poemas
·        Aparelho de som
·        Cópias de poemas diversos selecionados pelo professor e alunos

Desenvolvimento:
1 – Dividir a classe  em cinco grupos.
2 - Distribuir uma Coletânea de poemas para  cada grupo solicitando a leitura silenciosa do  poema da página 6, “O buraco do tatu”.  Em seguida, um dos alunos ou a professora fará a leitura em voz alta.

3 – Colocar o CD para que os alunos ouçam as duas leituras gravadas do poema (“O buraco  do tatu”) que será trabalhado na oficina 9. 

4 - Conversar sobre as impressões que tiveram de cada uma das audições. Para isso propor as questões:

a)   Na leitura que cada um fez, os efeitos sonoros e o ritmo foram facilmente percebidos?
b)   O que perceberam ao ouvir o poema? Há diferenças entre as leituras?
c)   O que sentiram ao escutar / ler o poema?
d) Fechando os olhos, vocês conseguem imaginar o que o poeta quis nos mostrar?

5 – Distribuir cópias dos poemas selecionados do mural para treinar a leitura em voz alta atentando para o ritmo, as pausas e a entonação da voz.  
Observação: pode-se utilizar o microfone.


Simplesmente ler

Ler sempre.
Ler muito.
Ler quase tudo
Ler com os olhos, os ouvidos, com o tato, pelos poros e demais sentidos.
Ler com razão e sensibilidade.
Ler desejos, o tempo, o som do silêncio e do vento.
Ler imagens, paisagens, viagens.
Ler verdades e mentiras.
Ler para obter informações inquietantes, dor e prazer.
Ler o fracasso, o sucesso, o ilegível, o impensável, as entrelinhas.
Ler na escola, em casa, no campo, na estrada, em qualquer lugar.
Ler a vida e a morte.
Saber ser leitor tendo o direito de saber ler.
Ler, simplesmente ler.
                                                              Edith Chacon Theodoro


Essência da Sabedoria

A leitura nos faz viajar
Por lugares nunca vistos,
Por terras desconhecidas,
Por lugares tão bonitos
Que transforma nossas mentes,
Deixando-nos mais eruditos.

A leitura faz a gente
Se sentir mais importante.
A leitura é coisa fina,
A leitura é diamante
Que lapida a nossa mente,
E nos transformando em gigante.

A leitura é um prazer
Que encanta e que transforma.
O ser humano que ler
Vira contador de história,
Fica mais inteligente
E muito mais cheio de glória.

A leitura é uma viagem
Por mundos que não vivemos,
Por lugares reais ou fictícios
Os quais nós descobriremos.
Essência da sabedoria,
Com ela nós aprendemos.

Sem leitura o ser humano
É chamado analfabeto.
Não consegue entender nada,
Nem o que lhe está mais perto.
Por isso, meu caro amigo,
Leia mais! Seja esperto!


                             
Carlos Soares

Aula de leitura

A leitura é muito mais
do que decifrar palavras.
Quem quiser parar pra ver
pode até se surpreender:
vai ler nas folhas do chão,
se é outono ou se é verão;
nas ondas soltas do mar,
se é hora de navegar;
e no jeito da pessoa,
se trabalha ou se é à-toa;
na cara do lutador,
quando está sentindo dor;
vai ler na casa de alguém
o gosto que o dono tem;
e no pêlo do cachorro,
se é melhor gritar socorro;
e na cinza da fumaça,
o tamanho da desgraça;
e no tom que sopra o vento,
se corre o barco ou vai lento;
também na cor da fruta,
e no cheiro da comida,
e no ronco do motor,
e nos dentes do cavalo,
e na pele da pessoa,
e no brilho do sorriso,
vai ler nas nuvens do céu,
vai ler na palma da mão,
vai ler até nas estrelas
e no som do coração.
Uma arte que dá medo
é a de ler um olhar,
pois os olhos têm segredos
difíceis de decifrar.
 

Poema extraído do livro:  Ricardo Azevedo.  Dezenove poemas desengonçados. São Paulo: Ática,1999.
Leilão de Jardim

Quem me compra um jardim com flores?
borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?
Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
(Este é meu leilão!)


Fonte: "Ou isto ou aquilo", Cecília Meireles, ed. Nova Fronteira.



Planeta ao contrário

No planeta ao contrário,
Os velhos dormem em berçário,
Os bebês ganham salário,
Quem se confessa é o vigário.

A piscina fica no vestiário,
O banho é dentro do armário,
Só tem um número no dicionário.

Com toda essa inversão,
Lá é tudo uma confusão?
Ao contrário.


Ricardo Silvestrin.  Pequenas observações sobre a vida em outros planetas. São Paulo: Salamandra, 2008.



O MENINO AZUL

                                      Cecília Meirele
O MENINO QUER UM BURRINHO
PARA PASSEAR.
UM BURRINHO MANSO,
QUE NÃO CORRA NEM PULE,
MAS QUE SAIBA CONVERSAR.

O MENINO QUER UM BURRINHO
QUE SAIBA DIZER
O NOME DOS RIOS,
DAS MONTANHAS, DAS FLORES,
- DE TUDO O QUE APARECER.

O MENINO QUER UM BURRINHO
QUE SAIBA INVENTAR HISTÓRIAS BONITAS
COM PESSOAS E BICHOS
E COM BARQUINHOS NO MAR.

E OS DOIS SAIRÃO PELO MUNDO
QUE É COMO UM JARDIM
APENAS MAIS LARGO
E TALVEZ MAIS COMPRIDO
E QUE NÃO TENHA FIM.

(QUEM SOUBER DE UM BURRINHO DESSES,
PODE ESCREVER
PARA A RUAS DAS CASAS,
NÚMERO DAS PORTAS,
AO MENINO AZUL QUE NÃO SABE LER.)



A arca de Noé

                                    Vinicius de Moraes

Sete em cores, de repente
O arco-íris se desata
Na água límpida e contente
Do ribeirinho da mata.

O sol, ao véu transparente
Da chuva de ouro e de prata
Resplandece resplendente
No céu, no chão, na cascata.

E abre-se a porta da Arca
De par em par: surgem francas
A alegria e as barbas brancas
Do prudente patriarca

Noé, o inventor da uva
E que, por justo e temente
Jeová, clementemente
Salvou da praga da chuva.

Tão verde se alteia a serra
Pelas planuras vizinhas
Que diz Noé: "Boa terra
Para plantar minhas vinhas!"

E sai levando a família
A ver; enquanto, em bonança
Colorida maravilha
Brilha o arco da aliança.

Ora vai, na porta aberta
De repente, vacilante
Surge lenta, longa e incerta
Uma tromba de elefante.

E logo após, no buraco
De uma janela, aparece
Uma cara de macaco
Que espia e desaparece.

Enquanto, entre as altas vigas
Das janelinhas do sótão
Duas girafas amigas
De fora a cabeça botam.

Grita uma arara, e se escuta
De dentro um miado e um zurro
Late um cachorro em disputa
Com um gato, escouceia um burro.

A Arca desconjuntada
Parece que vai ruir
Aos pulos da bicharada
Toda querendo sair.

Vai! Não vai! Quem vai primeiro?
As aves, por mais espertas
Saem voando ligeiro
Pelas janelas abertas.

Enquanto, em grande atropelo
Junto à porta de saída
Lutam os bichos de pelo
Pela terra prometida.

"Os bosques são todos meus!"
Ruge soberbo o leão
"Também sou filho de Deus!"
Um protesta; e o tigre — "Não!"

Afinal, e não sem custo
Em longa fila, aos casais
Uns com raiva, outros com susto
Vão saindo os animais.

Os maiores vêm à frente
Trazendo a cabeça erguida
E os fracos, humildemente
Vêm atrás, como na vida.

Conduzidos por Noé
Ei-los em terra benquista
Que passam, passam até
Onde a vista não avista

Na serra o arco-íris se esvai . . .
E . . . desde que houve essa história
Quando o véu da noite cai
Na terra, e os astros em glória

Enchem o céu de seus caprichos
É doce ouvir na calada
A fala mansa dos bichos
Na terra repovoada.


Minha cidade  
     
                                Cora Coralina

Goiás, minha cidade...
Eu sou aquela amorosa
de tuas ruas estreitas,
curtas,
indecisas,
entrando,
saindo
umas das outras.
Eu sou aquela menina feia da ponte da Lapa.
Eu sou Aninha.

Eu sou aquela mulher
que ficou velha,
esquecida,
nos teus larguinhos e nos teus becos tristes,
contando estórias,
fazendo adivinhação.
Cantando teu passado.
Cantando teu futuro.

Eu vivo nas tuas  igrejas
e sobrados
e telhados
e paredes.

Eu sou aquele teu velho muro
verde de avencas
onde se debruça
um antigo jasmineiro,
cheiroso
na ruinha pobre e suja.

Eu sou estas casas
encostadas
cochichando umas com as outras.
Eu sou a ramada
dessas árvores,
sem nome e sem valia,
sem flores e sem frutos,
de que gostam
a gente cansada e os pássaros vadios.

Eu sou o caule
dessas trepadeiras sem classe,
nascidas na frincha das pedras:
Bravias.
Renitentes.
Indomáveis.
Cortadas.
Maltratadas.
Pisadas.
E renascendo.

Eu sou a dureza desses morros,
revestidos,
enflorados,
lascados a machado,
lanhados, lacerados.
Queimados pelo fogo.
Pastados.
Calcinados
e renascidos.
Minha vida,
meus sentidos,
minha estética,
todas as vibrações
de minha sensibilidade de mulher,
têm, aqui, suas raízes.

Eu sou a menina feia
da ponte da Lapa.
Eu sou Aninha. 


Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas ou Cora Coralina,(Cidade de Goiás, 20 de agosto de 1889 — Goiânia, 10 de abril de 1985) foi poeta e contista brasileira. Produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás. Começou a escrever poemas aos 14 anos, porém, Publicou seu primeiro livro em 1965, aos 76 anos. 






A COR DO MENINO

                                                                       Milton Primo/ Herculano Neto

Se é negro, branco ou índio
O que importa a cor do menino?

Se é mulato ou se é pardo
O que importa se for misturado?

Se é verde, amarelo ou vermelho
O que importa o que diz o espelho?

Se é ruivo ou se é loiro
O que importa a cor do seu olho?

Se ele é branco ou não
Se ele é negro ou não
O importante é o seu coração
(O importante é que ele é meu amigo).

                      Canção infantil que faz parte do disco/livro PAPOS D’VERSOS

             Esse poema retratara fielmente o povo brasileiro, esse povo bonito, cheio de misturas, cores, essa diversidade gostosa de  se ver ! 





O homem; as viagens

                                                                   Carlos Drummond de Andrade 


O homem, bicho da terra tão pequeno

Chateia-se na terra
Lugar de muita miséria e pouca diversão,
Faz um foguete, uma cápsula, um módulo
Toca para a lua
Desce cauteloso na lua
Pisa na lua
Planta bandeirola na lua
Experimenta a lua
Coloniza a lua
Civiliza a lua
Humaniza a lua.

Lua humanizada: tão igual à terra.

O homem chateia-se na lua.
Vamos para marte - ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em marte
Pisa em marte
Experimenta
Coloniza
Civiliza
Humaniza marte com engenho e arte.

Marte humanizado, que lugar quadrado.

Vamos a outra parte?
Claro - diz o engenho
Sofisticado e dócil.
Vamos a vênus.
O homem põe o pé em vênus,
Vê o visto - é isto?
Idem
Idem
Idem.

O homem funde a cuca se não for a júpiter

Proclamar justiça junto com injustiça
Repetir a fossa
Repetir o inquieto
Repetitório.

Outros planetas restam para outras colônias.

O espaço todo vira terra-a-terra.
O homem chega ao sol ou dá uma volta
Só para te ver?
Não-vê que ele inventa
Roupa insiderável de viver no sol.
Põe o pé e:
Mas que chato é o sol, falso touro
Espanhol domado.

Restam outros sistemas fora

Do solar a colonizar.
Ao acabarem todos
Só resta ao homem
(estará equipado?)

A dificílima dangerosíssima viagem

De si a si mesmo:
Pôr o pé no chão
Do seu coração
Experimentar
Colonizar
Civilizar
Humanizar
O homem
Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
A perene, insuspeitada alegria
De conviver.



5 – Para ler um texto, não basta identificar letras, sílabas e palavras; é preciso buscar o sentido, compreender, interpretar, relacionar e reter o que for mais relevante, ou seja, o mais importante. Quando lemos algo, temos sempre um objetivo: buscar informação, ampliar o conhecimento, meditar, entreter-nos. Após a leitura destes  poemas respondam:

a)   Gostaram  destes poemas?
b)   Qual é o tema de cada poema?
c)   Entre estes poemas qual lhe agradou mais? Por quê?
d)    A que leitor e/ou  ouvinte estes textos se destinam?
e) Ouvir esses poemas nos faz lembrar de coisas alegres ou tristes?
f) Vocês sentiram o ritmo, a musicalidade, a intenção do eu poético em cada um deles? Explique.


Oficina 5 – Toda rima combina?

Objetivos
·        Reconhecer rimas em poemas.
·        Conhecer as diferentes combinações de rimas.
·        Produzir poemas com rimas.


Material
·        Coletânea de poemas
·        CD-ROM de poemas
·        Aparelho de som
·        Datashow
·        Dicionário de Língua Portuguesa


Desenvolvimento:
1 – Projetar no Datashow e propor aos alunos (reunidos em grupos) a leitura das quadrinhas abaixo.

O cravo brigou com a rosa,
Debaixo de uma sacada.
O cravo saiu ferido,
E a rosa despedaçada.


Sete e sete são catorze,
Com mais sete, vinte e um.
Tenho sete namorados
E não gosto de nenhum.


A roseira quando nasce,
Toma conta do jardim.
Eu também ando buscando
Quem tome conta de mim.


Menina dos olhos pretos,
Sobrancelhas de retrós,
Dá um pulo na cozinha,
Vá coar café prá nós.

Menina bonita
Do laço de fita
Me diz o que faz
pra ficar tão bonita

Quem não conhecia estas quadrinhas?
De que outras quadrinhas vocês  se lembram?
Em que situação as pessoas costumam falar, cantar, ouvir quadrinhas como estas?
Esta forma poética  é constituída de quantos versos (linhas)?
As rimas estão em que versos?
O que você entende por quadras populares?


2 – Sistematizar as informações.

     A quadra popular é a forma lírica mais comum entre o povo; foi também utilizada por poetas de renome, um exemplo Fernando Pessoa. É composta por quatro versos de sete sílabas (redondilha maior), a rima surge geralmente no 2.º e 4.º versos, sendo os outros dois versos brancos (sem rima). E pode  ser composta por uma única estrofe ou por várias.

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