quinta-feira, 15 de novembro de 2012



Poema: Sou Negro


SOU NEGRO

Sou Negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh'alma recebeu o batismo dos tambores atabaques, gonguês e agogôs

Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço plantaram cana pro senhor do engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu.

Depois meu avô brigou como um danado nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso

Mesmo vovó não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou

Na minh'alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação...

Texto com palavras de origem africana
A kizomba do boteco do Chicão

Estava passando pelo boteco do Chicão, quando vi que lá havia um tremendo fuzuê - era uma kizomba da qual queria participar, mas o Chicão me disse que só se fosse de abadá.
Voltei ao meu cafofo, procure, procurei, mas não conseguia encontrá-lo. Por causa disso, fiquei fulo da vida, meu cafofo era uma verdadeira bagunça. Havia trecos e cacarecos espalhados por todo canto, mas felizmente consegui encontrá-lo. Na hora de sair, meu irmão caçula começou a chorar de fome e a fazer um tremendo fuzuê, mas a mama fez-lhe um dengo até que ele acalmasse. Naquele momento, eu só queria paz e axé.
Aproveitando a ocasião, convidei também um amigo. Chegando lá, de posse de seu atabaque, afoxé e agogô, fizemos uma azoeira sem fim.
Ao som do batuque dançamos o jongo, caímos no samba e jogamos capoeira. Havia muito quitute apetitoso, porém, por eu ter abusado do acarajé bem apimentado, de repente, comecei a passar mal no melhor da kizomba.
Voltei para meu cafofo completamente borocoxô e pedi a mama que me preparasse um chá de erva mulungu e me fizesse um cafuné bem gostoso até que eu pudesse dormir.

Produção Textual dos alunos do Projeto "Nenhuma Criança a Menos"
 
 
 
Natal Africano

Não há pinheiros nem há neve,
Nada do que é convencional,
Nada daquilo que se escreve
Ou que se diz... Mas é Natal.

Que ar abafado! A chuva banha
A terra, morna e vertical.
Plantas da flora mais estranha,
Aves da fauna tropical.

Nem luz, nem cores, nem lembrança
Da hora única e imortal.
Somente o riso das crianças
Que em toda a parte é sempre igual.

Não há pastores nem ovelhas,
Nada do que é tradicional.
As orações, porém, são velhas
E a noite é Noite de Natal.

Cabral do Nascimento
Obra Poética
Porto, Edições Asa, 2003

Sequência de Atividades:
Da África ao Brasil...do Brasil a África

Fonte:

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